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quinta-feira, novembro 14, 2024

Eusebio Juaristi passou uma carreira pensando em moléculas em 3D


Crédito: Alejandra Rajal Ramirez

Eusébio Juaristi

Eusébio Juaristi se levanta no meio da nossa conversa e volta com uma sacola cheia de palitos plásticos coloridos. Ao encaixar os palitos com pequenas juntas, ele constrói modelos moleculares 3D que ilustram alguns de seus trabalhos – trabalhos dos quais a maioria dos químicos já ouviu falar, mesmo que não reconheçam o nome de Juaristi.

Sinais vitais

Cidade natal: Querétaro, México

Educação: BS, química, Instituto de Tecnologia e Ensino Superior de Monterrey, 1972; PhD, química orgânica, Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill, 1977

Posição atual: Professor de química, Centro de Pesquisa e Estudos Avançados do Instituto Politécnico Nacional (Cinvestav) Cidade do México

Melhor conselho profissional que recebi: Quanto mais eu trabalho, mais sorte tenho.

Músicas favoritas: “Let It Be” e “Non, Je Ne Regrette Rien”

Eu sou: mexicano

Juaristi, ilustre professor emérito do Centro de Pesquisa e Estudos Avançados do Instituto Politécnico Nacional (Cinvestav) da Cidade do México, é um dos químicos mais citados da América Latina e recebeu quase todos os prêmios nacionais que o México pode conceder. “Ele é uma estrela do rock”, diz Rodrigo Patiñopesquisador do Cinvestav Mérida em Yucatán, México. Patiño conhece o veterano pesquisador desde 1995, quando Patiño iniciou as pesquisas para seu doutorado no laboratório vizinho ao de Juaristi.

Alguns colegas consideram Juaristi um dos maiores especialistas no efeito anomérico. Um princípio básico na análise conformacional determina que os substituintes em anéis de seis membros preferem se posicionar equatorialmente ou no mesmo plano do anel. O efeito anomérico refere-se aos casos em que os substituintes se posicionam axialmente, projetando-se para fora do plano do anel.

Usando os modelos moleculares, ele mostra como sua equipe de pesquisa descobriu que uma molécula heterocíclica orgânica adotava uma conformação que parecia impossível. Seu volumoso substituinte pairava acima do anel, e não ao lado dele. “Tínhamos evidências de uma interação anomérica forte e sem precedentes”, explica ele (J. Org. Química. 1982, DOI: 10.1021/jo00146a048).

Mas, tal como outros princípios fundamentais que regem a física molecular, “o efeito anomérico, por exemplo, não é um tema que atrai muita atenção”, diz ele.

Ao usar o equipment de modelo molecular para contar a história da descoberta, ele começa a relembrar como o equipment tem uma história própria. Ainda na graduação, em 1970, frequentou um minicurso de estereoquímica, onde conheceu Ernest L. Eliel, um dos criadores da análise conformacional. “Ele percebeu como eu estava intrigado com seus modelos moleculares Fieser e me deu-os de presente. Cinquenta e quatro anos depois, ainda os uso”, diz Juaristi, referindo-se aos palitos de plástico espalhados sobre a mesa. Em 1972, foi para a Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill para fazer doutorado sob a supervisão de Eliel.

Em 1979, após concluir o pós-doutorado na divisão de diagnóstico da Syntex em Palo Alto, Califórnia, recebeu o convite para ingressar no departamento de química da Cinvestav na Cidade do México. “A essa altura, decidi que queria ter meu próprio grupo de pesquisa”, diz ele. “Também concluí que minha contribuição potencial como professora e pesquisadora teria um impacto muito maior no México.”

C. Dale Poulter, ex-editor-chefe do Jornal de Química Orgânicaconsidera notável o trabalho de Juaristi em análise conformacional, síntese enantiosseletiva de β-aminoácidos e organocatálise assimétrica. Mas Poulter credita particularmente o papel de Juaristi no desenvolvimento do campo da físico-química orgânica no continente, já que Juaristi foi um pioneiro no estabelecimento de um programa rigoroso para a formação de estudantes no México no ultimate da década de 1970. “O impacto do seu trabalho se espalhou por toda a América Latina à medida que seus alunos se mudaram para outros países para estabelecer seus próprios programas”, diz ele.

Nos últimos anos, Juaristi tem sido um dos mais determinados promotores da química verde no México. Seu objetivo é desenvolver produtos e processos que reduzam a liberação de resíduos prejudiciais ao meio ambiente. Ele está particularmente interessado no uso de moinhos de bolas de alta velocidade para desenvolver condições livres de solventes para processos catalíticos. “Somos pioneiros na aplicação da mecanoquímica na síntese de peptídeos, bem como na organocatálise assimétrica por meio da ativação mecanoquímica.”

Concluí também que a minha contribuição potencial como professor e pesquisador teria um impacto muito maior no México.

Apesar da admiração de Patiño por Juaristi, o pesquisador veterano é praticamente desconhecido dos químicos fora do México. Os colegas de Juaristi dizem que uma explicação poderia ser que a ciência basic como a dele não recebe publicidade suficiente. Mas Guillermo Delgado Lamas, antigo presidente da Sociedade Química do México, também aponta para o forte cepticismo em relação à investigação que vem de qualquer lugar que não os famosos centros de investigação da Europa ou dos EUA.

Juaristi concorda que tende a haver preconceito, especialmente contra jovens cientistas na América Latina. “Quando você escreve um artigo, alguns colegas preferem citar o trabalho realizado em instituições dos EUA, da Europa ou do Japão”, diz ele.

Enquanto trabalhava no México nos últimos 45 anos, Juaristi notou muitas mudanças, algumas boas, outras ruins. No geral, ele elogia os avanços que está encontrando na América Latina. “O número de estudantes, departamentos de química, programas de pós-graduação em química – não apenas no México, mas em outros países como Brasil, Argentina e Colômbia – é motivo de orgulho”, diz ele.

Mas os cientistas enfrentam novos desafios com governos céticos quanto à importância da educação e da investigação. Os cortes subsequentes de bolsas de estudo e subvenções ocorreram recentemente no Brasil, no México e na Argentina. “Os últimos seis anos foram muito difíceis porque o atual governo do México não apoia a ciência”, diz Juaristi.

Eusebio Juaristi usa jaleco e está sentado em um laboratório de química. Seu corpo está parcialmente obscurecido por uma prateleira.

Crédito: Alejandra Rajal Ramirez

Eusebio Juaristi está sentado em seu laboratório. Nenhum experimento estava em andamento e o equipamento estava desligado quando esta foto foi tirada.

Juaristi, como muitos de seus colegas, perdeu a bolsa do conselho científico mexicano. A presidente eleita, Claudia Sheinbaum, prometeu reverter a negligência, embora Juaristi esteja cético de que os “recursos financeiros disponíveis serão suficientes para honrar esta promessa”.

Apesar dos problemas, Juaristi vê um futuro brilhante para o seu laboratório. Ele se lembra de um comentário do ganhador do Nobel Herbert Brown que o impressionou. Brown visitou o México na década de 1990 e, após sua palestra, Brown disse que seus melhores esforços em química vieram depois de ganhar o prêmio, já na casa dos 60 anos. O comentário agora faz todo sentido para Juaristi: “Não há motivo para parar. Estou iniciando projetos novos e emocionantes; Tenho muitas ideias; Tenho apenas 73 anos.”

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