A história não contada da coqueluche em adultos
A coqueluche não é apenas uma doença infantil. Adultos com problemas respiratórios como asma ou DPOC são particularmente vulneráveis, mas a coqueluche muitas vezes não é diagnosticada. Minha própria experiência como residente pediátrico exemplifica isso: suportei meses de tosse implacável que não foi identificada como coqueluche.
Quando comecei a trabalhar com a tosse convulsa na Sanofi, rapidamente percebi que a maioria dos esforços de prevenção se concentra nas crianças, especialmente nos bebés pequenos, que são mais vulneráveis a complicações graves. No entanto, como residente pediátrico há anos, experimentei em primeira mão o impacto devastador da tosse convulsa em adultos – embora não soubesse disso na altura.
Lembro-me vividamente da provação: uma tosse implacável e cortante que durou mais de três meses, impossibilitando o sono e me fazendo vomitar após ataques de tosse. Os médicos que consultei nunca consideraram a coqueluche um diagnóstico. Em vez disso, passei por uma bateria de exames, incluindo radiografias de tórax e gasometria arterial (um procedimento que não desejaria a ninguém), sem nenhuma resposta. A certa altura, fiquei convencido de que havia contraído tuberculose PPD negativa.
Só muito mais tarde, quando aprendi mais sobre coqueluche em meu trabalho, é que percebi que estava lutando contra a tosse convulsa o tempo todo. Esta revelação alimentou a minha missão de garantir que a coqueluche seja reconhecida como uma ameaça significativa à saúde – não apenas para crianças, mas para pessoas de todas as idades. Como muitos adultos de então e de agora, eu não tinha ideia de que a coqueluche poderia me afetar, nem os médicos que me tratavam.
A motivação por trás do estudo
Esta lacuna na consciência é a razão pela qual o nosso estudo recentemente publicado sobre a vacinação contra a tosse convulsa em adultos pareceu tão pessoal. Pesquisamos mais de 800 médicos nos EUA, França e Alemanha para compreender suas atitudes e práticas em relação à vacinação contra coqueluche em adultos. O que descobrimos foi desanimador: embora os médicos reconhecessem os riscos para certos grupos de alto risco, eles classificaram a vacinação contra a tosse convulsa para adultos como menos importante do que o tétano.
Quando foi a última vez que alguém viu um caso de tétano?
Superando Barreiras à Vacinação
Os médicos do nosso estudo destacaram uma série de barreiras à vacinação, incluindo baixa percepção de risco. Muitos adultos simplesmente não se consideram vulneráveis à coqueluche, embora provavelmente tenham sido vacinados contra o tétano – uma doença muito menos comum que a coqueluche.
Obstáculos logísticos também criam desafios. Em alguns países, como a França, os pacientes têm de passar por um processo de várias etapas para receber uma vacina, criando atrasos e oportunidades perdidas. Mesmo em locais onde o acesso é mais fácil, a fadiga das vacinas e as prioridades de saúde concorrentes ainda podem ter impacto na adesão.
Para os prestadores de cuidados de saúde, a falta de ferramentas educacionais e lembretes pode dificultar a integração da vacinação contra coqueluche nos cuidados de rotina. Abordar estas barreiras é essencial para melhorar as taxas de vacinação e proteger os adultos da tosse convulsa.
O caminho a seguir
Este estudo ressalta a necessidade de maior conscientização e educação sobre coqueluche em adultos. Devemos capacitar os médicos para reconhecerem a tosse convulsa como um diagnóstico potencial em pacientes adultos com tosse persistente e para priorizarem a vacinação – não apenas para proteger os indivíduos, mas também para reduzir a transmissão comunitária.
Para mim, não se trata apenas de dados; trata-se de garantir que ninguém tenha que suportar o que passei. Tossir violentamente durante 100 dias é mais do que um incômodo – é um problema de saúde pública que merece nossa atenção.